domingo, 26 de setembro de 2010

Crônica: Não se Precipite

Era uma noite chuvosa, 16 de julho, segunda-feira. Tédio estava por toda parte, e, sem nada para fazer, fui até a janela olhar para imensidão. A chuva escorria pelo vidro no lado de fora e molhava as cortinas, com um vento suave. Vagando pela casa, resolvi dirigir-me até a cozinha e preparar um chá. Assaltar a geladeira era uma das minhas tarefas favoritas na madrugada, e então, sem escolher muito, ataquei a primeira embalagem azul que vi, uma meia barra de chocolate, já mordida é claro, mas, por mim mesma, em outras madrugadas frias.
Voltando para a sala, procurei encontrar uma posição confortável e aconchegante no meu sofá rasgado. Liguei minha televisão, e me entreti, assistindo a um programa de animais que logo acabou. Então veio o sono, e sem vontade o suficiente para levantar e ir até o quarto, não liguei em, alí mesmo, adormecer. Duas horas depois, algo chamou minha atenção e rapidamente despertei, meus ouvidos, tentavam procurar o ruído enquanto eu fazia caretas de muito medo e espanto.
Com um ato de coragem inesperado, me aproximei da janela à procura de algo fora do lugar, mas não tinha nada. Absolutamente nada. O silêncio era o mesmo, a não ser pelo barulho da chuva e os assovios do vento. Outra vez um estrondoso estouro e, pude perceber que vinha de dentro da casa. Meu coração acelerou, corri para o quarto e me escondi entre a parede a cômoda, puxando um leve cobertor por sobre meu corpo, deixando apenas os olhos em alerta. Eu não sabia o que fazer, pensar, como agir, nada! Só tinha certeza de uma coisa: Algo fora do normal está acontecendo, óbvio. “Eu vou morrer”, meu cérebro repetia isso diversas vezes para si mesmo, embora eu não quisesse acreditar. E, de novo, mais um estouro, agora, não tão assustador. Não havia mais respostas para o que ocorria, eram apenas barulhos. Eu queria poder levantar, correr, e gritar: “Está tudo bem”, só que meus olhos não aguentavam nem mais um segundo e desmaiei complatamente, entrando em um sono profundo, porém, preocupado.
A noite tornou-se o dia claro e a chuva virou o sol, que entre as cortinhas me acordou pela manhã. Ainda estava no chão, ou melhor, no “esconderijo” e lembrei então do pesadelo passado. Andando devagar pela casa, encontrei tudo em seu devido lugar, até minha xícara de chá e a embalagem azul clara, que de longe já me chamava atenção. Mais cinco passos e la estava eu, na dispensa, abismada com tamanha bagunça! Muitas coisas quebradas cobriam o carpete verde escuro, tantos estilhaços e pedaços de objetos como se tivessem sidos lançados ao chão. Pensei em muitas hipóteses, nada fazia sentindo, realmente nada mesmo! Uma olhada intensa e calma desta vez para o mesmo lugar e, la estava ele, o maldito que me arrancou o sono na noite anterior. Era Flip, o meu carangueijo de estimação! Estava no alto de um armário estreito andando de um lado para o outro enlouquecido. Então, numa sensação de alívio e muito rancor ao mesmo tempo, percebi que os meus objetos quebrados eram os que estavam em cima do armário. “Como ele conseguira subir até lá e destruir radicalmente os meus pertences com apenas uma queda de dois metros de altura?” A única dúvida que me restou, não queria desgrudar de meu cérebro.
A raiva novamente tomou conta de mim e saí à procura de algo destruidor, pelo menos, para um carangueijo. Peguei meu taco de golfe e esmaguei o pobre Flip, sua cabeça se partiu e suas garras voaram longe. “O que eu fiz?” Matei meu próprio amigo, matei o Flip. Meu argumento para agir de cabeça quente foi: Você morto, nunca mais irá me fazer passar esse pesadelo horrível, pavoroso. Perdi meu melhor amigo, nunca mais me perdoei por isso, nem o tempo apagou esse fato, nem mesmo, os meu remédios psiquiátricos.
-por Aline Xavier (9° "B").